sábado, 18 de junho de 2016

Memorando de Vincent Willow - Parte 1















PRÓLOGO













Memorando de Vincent Willow
Dia 29

Não sobrou nada dos meus arquivos. Todos os meus relatórios se perderam, com exceção da minha caderneta de anotações que carrego comigo no bolso da jaqueta. Por algum tempo vou ter que usar este velho fichário para redigir meus relatórios e memorandos. Provisoriamente até como um diário...

Preciso ocupar meu tempo até que as coisas estejam em ordem novamente. É muito difícil se concentrar no trabalho, principalmente quando você se lembra de tudo de novo sempre quando aquelas coisas fazem barulho lá fora. Lembrar que elas estão por toda parte, sem sentir sono ou cansaço, me incomoda muito ainda. Aos poucos vou me acostumando com a ideia.

Acho que vou ter que adiar meu doutorado por bastante tempo. Não creio que tudo vá voltar ao normal tão cedo.

Já fazia vinte e três dias que eu não via alguém normal.

Isso tudo foi acontecendo aos poucos... não foi de uma hora para outra como muitos pensavam. Estive estudando mutações nesses últimos meses, relembrando um dos meus temas de pesquisa da graduação. Nunca foi meu forte, nunca tive interesse em me aprofundar no assunto, mas ultimamente precisei me esforçar pra entender muita coisa do que está acontecendo.

Sem dúvida, o calor excessivo daquelas semanas anteriores foi a grande incubadora.

Acho que ninguém viu algo parecido. Com certeza não.

Varíola, “Gripe Espanhola”, Ebola, SARS, Marburg, Lassa, H5N1... Nada disso.

Centenas de equipes, por todos os estados... governo, organizações, setor privado... Todos tentaram em vão esmiuçar em exames e testes toneladas de material genético colhidas de todos os lugares possíveis. Era notável o desespero nos olhos de cada um deles. Não tinham ideia do que estava acontecendo e o que estava por vir. Se ainda há algum deles vivo, com certeza já não se importa mais com isso. A única coisa que importa para qualquer um agora é a sobrevivência.

Tantos meses de estudo me fizeram concluir o quanto a humanidade é vulnerável, ou melhor, o quanto ela se tornou vulnerável.

Preciso descansar, por hoje já fiz muita coisa. Amanhã cedo buscarei mais algumas coisas. Já está tarde, melhor não arriscar. No escuro sou menos ágil e mais suscetível de erros.



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